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Em São Tomé das Letras (MG), uma propriedade de 340 hectares de café mudou a rotina dos trabalhadores e implantou medidas preventivas à Covid 19. Segundo o gestor da fazenda, Marcos Kim, os cuidados com o coronavírus começaram quando o Brasil ainda não se preocupava com a doença.
“Em janeiro fui à Coreia do Sul visitar alguns clientes. Lá as pessoas já estavam de máscara e preocupadas com a Covid. Os sul-coreanos já tinham o hábito de usar máscara e álcool gel. Quando voltamos para o Brasil também usamos máscaras. Em abril, nós começamos a orientar verbalmente nossos 36 funcionários fixos a lavar a mão com álcool gel e a usar máscara antes que o governo obrigasse o uso”, contou.
Em maio, quando foram contratados 40 safristas para a colheita de mão, foi realizada uma reunião. “Eles foram orientados sobre os problemas e consequências do Covid 19 e também o que a gente deveria fazer não só na fazenda, mas dentro da casa de cada um. Nós criamos um programa de cuidados e passamos para eles. A cada 15 dias fazíamos uma reunião com todos para notificar o aumento dos infectados e mortos de outras cidades porque a doença não tinha chegado aqui”, explicou.
Marcos comemora porque garante que conseguiu cumprir seu objetivo de conscientizar a todos. “Até nos ônibus nossos colaboradores tinham que usar máscaras e fazer medição da temperatura antes de entrar para seguir ao trabalho. Não tivemos nenhum caso confirmado. A colheita acabou e os temporários se foram. Mesmo assim, nossos funcionários fixos continuam na fazenda com o programa de prevenção”, garantiu.
A fazenda tem sua mão de obra locada em São Bento Abade (MG), cidade vizinha a São Tomé da Letras. Porém, em outras cidades, muitas propriedades precisam contratar mão de obra de outras regiões do estado ou até mesmo do país.
Esse é o caso de Conceição da Aparecida (MG) que tem grande parte de suas lavouras em locais inclinados onde a colheita mecanizada é limitada. Segundo Ornelas Borba que é presidente do Sindicato Rural, a colheita de café ocorreu normalmente no município.
Ele ressalta que o uso crescente das derriçadeiras manuais, as populares mãozinhas, têm diminuído o número de trabalhadores nas lavouras e também o tempo de colheita. “Tudo tem ficado mais rápido”, disse.
Outro ponto ressaltado por ele é o cuidado com os trabalhadores que vieram de outras cidades. “O apanhador que vinha de fora era aconselhado a não frequentar a área urbana para evitar o contato com as pessoas daqui. Uma obrigação do responsável da fazenda é comprar tudo que eles precisassem”, explicou Ornelas.
Orientações
Algumas prefeituras, cooperativas, associações e entidades ligadas à cafeicultura já publicaram notas informativas e cartilhas orientando os produtores rurais de como proceder em tempos de pandemia. Um exemplo do trabalho dos órgãos governamentais é a cartilha da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater – MG), que orienta os cafeicultores desde o momento da contratação da mão de obra e do transporte dos trabalhadores até as ações para prevenção ao Covid no dia a dia da colheita, sempre reforçando a necessidade da higienização do local de trabalho e alojamento.
Outro exemplo de orientação por parte de entidades do setor cafeeiro é o da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé). A maior cooperativa do setor orientou seus 15 mil cooperados a criar hábitos preventivos contra a Covid 19.
“Os cuidados envolvem todos os processos da safra incluindo refeitórios, transportes e alojamentos. Também a presença de menor número de colhedores de café nos talhões para evitar aglomeração no campo. São medidas que aumentarão o período de safra se comparado ao tempo sem pandemia, levando a época de colheita até o mês de setembro”, explicou o presidente Carlos Augusto Rodrigues de Melo.
Uma recomendação comum a várias prefeituras é a de priorizar mão de obra local. Algumas cidades do Sul de Minas fizeram recomendações sobre a colheita do café como Cabo Verde (MG), Nova Resende (MG), Campos Gerais (MG) e Três Pontas (MG).
As sugestões seguem orientações de órgãos de saúde e orientam a não contratar ninguém dos grupos de risco e que os trabalhadores passem por avaliação médica, portem equipamentos de segurança individuais e mantenham a higienização constante dos objetos pessoas de trabalho.
Números
A época de colheita do café costuma ocorrer de maio a agosto com duração média de dois meses. Segundo a Conab, o Brasil deverá colher em 2020, mais de 43 milhões de sacas de café arábica. Em relação à safra de 2019, esse valor representa um aumento que chega a 34%.
A companhia estipula que Minas Gerais colherá 32 milhões de sacas produzidas, sendo 17 milhões só no Sul de Minas.
A pandemia alterou apenas a rotina de trabalho e aumentou o tempo de colheita. Porém, com o uso de derriçadeiras manuais (maquininhas) que agilizam o tempo de colheita e a bienalidade positiva, os números de 2020 prometem ser promissores.
Essa é a aposta do presidente do Centro de Comércio do Café de Minas Gerais (CCCMG), Archimedes Coli Neto. “A expectativa é uma safra muito boa. Tanto de volume quanto de qualidade. Eu acho que ela vai surpreender para cima. Os números serão superiores aos da Conab. É um ano de safra cheia e com boa qualidade”, aposta.