Uma iniciativa pioneira em Patrocínio-MG tem unido cafeicultores, setores público e privado para pensarem e executarem ações que visam à preservação e conservação dos recursos naturais com o propósito de combater as mudanças climáticas. Este é o Consórcio Cerrado das Águas (CCA), uma plataforma colaborativa que une vários setores: empresas, governo e sociedade civil, para alcançar este objetivo. Desde o início de suas atividades possui uma dinâmica própria de atuação, cujo foco é oferecer estratégias para combate às mudanças climáticas e trabalho em parceria com os cafeicultores da bacia do córrego Feio, principal fonte de abastecimento hídrico do município.
Dinâmica agregadora e inclusiva
O grande diferencial do CCA é sua capacidade de estabelecer uma parceria que vai além de agregadora dos setores mencionados, mas também de ser totalmente inclusiva, entendendo as necessidades dos produtores rurais e auxiliando-os a pensar e executar ações de acordo com suas possibilidades.
Com o PIPC – Programa de Investimento no Produtor Consciente, o CCA encontrou o caminho para oferecer serviços especializados para o desenvolvimento ambiental das propriedades da bacia do Córrego Feio em três frentes: restauração, práticas agrícolas climaticamente inteligentes e gestão eficiente dos recursos hídricos. Assim, aderindo a este Programa, o produtor recebe o PIP – Plano Individual de Propriedade, elaborado pela equipe técnica e especialista do CCA para cada produtor implementar as estratégias específicas de sua fazenda alinhadas ao grande objetivo da plataforma que é resiliência climática da produção.
Os caminhos para o alcance dos objetivos
Hoje o PIPC conta com 55% dos produtores da bacia do córrego Feio participando da iniciativa, contudo, para se chegar a este número, o CCA realizou ações e atividades de engajamento com regularidade, como explica Lina Inglez, especialista em conservação da Mata Atlântica e do Cerrado, responsável pela condução do PIPC junto aos produtores.
“O engajamento dos produtores com a iniciativa é resultado de uma fase longa de vários contatos para apresentar a iniciativa e a metodologia de trabalho, bem como reuniões, divulgação em mídias locais e sociais. Em 2019, tivemos a oportunidade de realizar um evento em uma da bacia do Córrego Feio, neste encontro todos os proprietários participaram e foi apresentado, formalmente, o programa de investimento no produtor consciente, as etapas para a inscrição e realização do trabalho.”, relembra Lina.
Depois do lançamento, o CCA obedece a uma dinâmica de manter o seu relacionamento com o produtor de forma próxima e envolvendo-o em todo o processo e isso inclui os esclarecimentos gerais ao diagnóstico e apresentação das estratégias sugeridas. Após esta movimentação, são realizadas oficinas de trabalho, é nesse momento que ocorre a negociação da contrapartida que será feita pelo produtor e também do investimento que será feito pelo CCA, uma vez que, por se tratar de uma plataforma colaborativa, todos os envolvidos investem recursos financeiros, humanos ou materiais e dessa forma acontece o envolvimento em ações para o alcance dos resultados propostos. Por isso, a dinâmica de proximidade e confiança entre o produtor e a equipe do CCA é fator decisivo para o sucesso da iniciativa.
“A versão final do PIP tem total anuência do produtor, os pedidos de alteração são acolhidos pela equipe técnica. O CCA não impõe nenhuma técnica ou local de intervenção que o produtor não esteja de acordo. Há muitos produtores já bastante maduros em relação à necessidade de se ter esforço conjunto para combater os efeitos das mudanças climáticas e que, mesmo não tendo passivo ambiental, querem participar para melhorar suas APPs e reservas. Neste caso sugerimos enriquecimentos a fim de aumentar a biodiversidade dos ecossistemas naturais. Há outros produtores que querem começar com pequenas intervenções”, esclarece a especialista.
Comprometimento com as paisagens do presente e do futuro
O trabalho, que hoje gira em torno de 4.397 hectares na bacia do córrego Feio, recolhe todas as informações sobre os ecossistemas naturais, analisa imagens de satélite e avalia a posição na bacia e o impacto do manejo no local. “Trabalhamos com várias estratégias, tais como: isolamento da área, plantios consorciados, enriquecimentos, controle de cipó, coroamento de regenerantes, semeadura direta, entre outros. Neste ano usamos a espectrometria para obter todas as representações de vegetação da bacia”, conta Lina.
Dentre os objetivos do PIPC, está o de conectar paisagens com ações de conservação e restauração da vegetação nativa nas propriedades, uma vez que têm o maior impacto nos serviços ecossistêmicos, especialmente os de conservação, cujos resultados são visualizados a longo prazo
“Os resultados são mensurados com um plano de monitoramento que inicia seis meses depois. Neste plano verifica-se o crescimento das mudas, o estado geral da área. A fase de manutenção é de responsabilidade dos produtores que realizam todos os cuidados com o desenvolvimento das mudas plantadas. Um outro resultado é o envolvimento e corresponsabilidade do produtor, que se mostra cada vez mais consciente da necessidade da restauração e se dispõe a participar do processo”, informa a especialista que ressalta que toda prática adotada pode ser considerada ecológica. “Não usamos nenhum tipo de defensivo químico. Os produtos usados são: herbicida pré-emergente orgânico e um formicida também orgânico, garantindo que o sistema não fique contaminado após nossos manejos com agrotóxicos químicos e que deixem resíduos tóxicos no local. Primamos pelo manejo de áreas situadas em cabeceiras e cursos d´água a fim de aumentar a proteção da bacia e reverter áreas abertas em florestas e cerradões. A nossa equipe de campo é sempre muito bem recebida pelos produtores. E também o nível de responsabilidade dos cuidados pós-plantio por parte da maioria dos produtores é muito bom. Os plantios do ciclo passado visitados em 2020, mostram as mudas bem desenvolvidas e com baixa mortalidade”, afirma.
Próximos passos
Devido à resposta positiva da iniciativa e diante do envolvimento e participação ativa dos produtores e cadeia produtiva envolvida, o CCA planeja avançar sua área de atuação para Serra do Salitre e Coromandel, por meio de uma parceria com o Sebrae para realização do ZAP (Zoneamento Ambiental Produtivo) cujos resultados indicarão as áreas adequadas para serem realizadas intervenção e que responderão mais rapidamente ao processo de oferecer mais segurança climática as produtores locais.
Sobre o Consórcio Cerrado das Águas
Criado em 2014, em Patrocínio – MG, o Consórcio Cerrado das Águas tem como objetivo conscientizar produtores da região sobre a importância de seus ativos ambientais por meio do diagnóstico e investimento nos mesmos, garantindo sua preservação a longo prazo.
A iniciativa possui as seguintes empresas associadas: Nescafé, Expocaccer, Nespresso, Lavazza, Cooxupé, além das instituições apoiadoras como Federação dos Cafeicultores do Cerrado, CerVivo, Imaflora e IEB – Instituto Internacional de Educação do Brasil.
Em 2019, o projeto piloto recebeu do Fundo de Parcerias para Ecossistemas Críticos (CEPF) o valor de US$400 mil para implementar o programa que irá promover, inicialmente, o investimento e a proteção dos ecossistemas naturais encontrados em mais de 100 propriedades ao longo da bacia do Córrego Feio. A quantia é o maior subsídio já concedido pelo CEPF, que conta com exigentes doadores como a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), União Europeia, Fundo Mundial para o Ambiente (GEF), Governo do Japão e Banco Mundial.
Saiba mais acessando: http://cerradodasaguas.org.br