Por Silas Brasileiro – Presidente do Conselho Nacional do Café
Talvez este não seja o momento mais apropriado, contudo, é necessário comentar sobre os altos preços do café praticados nos últimos dois anos, que têm incentivado o aumento do cultivo em nosso país. Gostaríamos de tecer algumas considerações sobre esse cenário.
Começando pela cautela, o que se observa é uma euforia entre os produtores de café, o que os estimula a ampliar suas áreas cultivadas, não apenas no Brasil, mas também em outras regiões, como a África. Este movimento é agora impulsionado pelo recém-criado Fundo Global Europeu, que disponibilizará recursos substanciais — 400 milhões de euros — direcionados ao continente africano.
Segundo o presidente do G7, Embaixador Stefano Gatti, da UE-Itália, o objetivo é diversificar as origens do café. Entretanto, avaliamos que essa justificativa é ilusória, pois, na realidade, o que se busca é aumentar a oferta de café para não depender excessivamente dos dois maiores produtores e exportadores mundiais: Brasil e Vietnã.
Nunca é demais lembrar que o mercado é guiado pela oferta e demanda. Atualmente, devido às adversidades climáticas que afetaram os produtores nos últimos três anos — como temperaturas elevadas, geadas, granizo, chuvas irregulares e abaixo da média —, houve um equilíbrio entre OFERTA E DEMANDA.
Portanto, essa é uma colocação pessoal – e com responsabilidade -, mas temos que chamar a atenção, sem citar os projetos desenvolvidos em estados tradicionais de produção e, alguns outros que não tem a tradição na produção de café, mas que agora estão investindo maciçamente, e isso pode levar a um desequilíbrio na oferta com consequência de preços aviltados.
É fundamental que o produtor tradicional invista nas áreas já cultivadas, aplicando conhecimento e tecnologia para renovar sua lavoura e garantir um nível superior de qualidade — esse é o grande diferencial.
Não podemos nos esquecer da importância de manter o foco no princípio da sustentabilidade, que é, e continuará sendo, uma exigência essencial do mercado. A demanda por práticas sustentáveis é crescente, e o compromisso com essa condição será cada vez mais determinante para o futuro.
Acreditamos que o adiamento da aplicação da legislação europeia (EUDR) se estenderá por mais um ano, mas outros importadores e consumidores também adotarão exigências semelhantes em breve. Os produtores brasileiros devem se adequar para atender a esses requisitos, pois a cafeicultura mundial também caminhará nessa direção.
Cabe destacar que no último dia 28, o Comitê Técnico do Conselho Deliberativo da Política do Café (CTCDPC), reuniu-se e aprovou recursos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) da ordem de R$11 milhões, sendo R$ 6,5 mi para a realização do levantamento do parque cafeeiro – em atendimento à EUDR -, e R$ 4,5 mi para a promoção dos cafés do Brasil. E, ainda, já aprovados anteriormente, aproximadamente R$19 milhões para pesquisa, através da Embrapa. Assim trabalha a liderança da cafeicultura brasileira.
Concluo, reafirmando que sustentabilidade e qualidade são as palavras de ordem do momento atual da nossa cafeicultura.
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