Por Silas Brasileiro – Presidente do Conselho Nacional do Café (CNC)
Continua sendo noticiado por alguns analistas e empresas de consultoria que a safra de café 2023/2024 será muito superior que a previsão apresentada pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mesmo estando em um ano de bienalidade negativa.
Não gostamos da expressão “especulação”, no entanto, é o que se verifica nesses informativos que são publicados insistentemente. O Conselho Nacional do Café (CNC) continua insistindo que os números oficiais do país são os mais coerentes e avaliamos que a Conab é o órgão que pesquisa, através das principais fontes isentas – de forma mais confiável – a previsão de safra. Além disso, a companhia conta com uma equipe competente que vai a campo aferir as informações adquiridas.
Outra abordagem que necessitamos colocar para esclarecimento é que teremos um estoque de passagem baixo, ainda a ser publicado, mas que somado à safra que será colhida, proporcionará um volume de café suficiente para abastecimento interno e fidelização do mercado externo, embora com uma oferta estreita.
Quanto ao desempenho dos embarques no primeiro trimestre de 2023, não existe nenhuma correlação com as safras anteriores. Tivemos safra recorde em 2020 e outras duas comprometidas em 2021 e 2022. O baixo volume de embarque não foi em razão do resultado dessas safras e da oferta de café menor para o mercado pelos produtores e cooperativas.
O motivo real, quando muitos não querem citar ou admitir, é o preço baixo praticado pelo mercado. Exigências de consumidores, principalmente, mercado europeu, cada vez mais oneram o custo do café que nós produzimos. No entanto, por outro lado, não reconhecem que devem valorizar o café produzido dentro do princípio da sustentabilidade.
É sempre nós, produtores, que pagamos a conta. Já é hora de admitir que estamos prontos a atender as solicitações do mercado. Contudo, necessário se faz, que os pequenos produtores sejam remunerados, inclusive, para continuarem suas atividades.
O mercado não avalia que no futuro poderemos diminuir a oferta de café, pelo desestímulo em não reconhecer que devem pagar um preço justo pelo café produzido. Essas considerações se tornam necessárias para mostrar uma realidade que, embora presente, sequer é avaliada.
Outro ponto fundamental é quanto ao estímulo para o aumento do cultivo do café, que é feito permanentemente pelo mercado, esquecendo que maior produção/oferta trará um desequilíbrio entre oferta e demanda. Assim, mais uma vez, os produtores pagarão o preço.
Se hoje em que há um equilíbrio entre a oferta e a demanda quase não se reflete em preço, imagine amanhã, com excesso de oferta?! Essa propalada informação de que haverá incremento no consumo é enganosa, para não dizer perigosa para os produtores, pois com a crise mundial comprometendo a renda dos principais consumidores – que estão envolvidos em guerras, sofrendo com taxa de juros elevadas, inflação e problemas de instituições financeiras em importantes centros mundiais, consumindo recursos substantivos – fará com que o crescimento do consumo de café seja mantido, quando muito tendo um pequeno acréscimo.
Voltando ao Brasil, em uma condição de clima normal com a área cultivada de 2,26 milhões de hectares, com média (baixa) de 33 sacos por hectares, será suficiente para atender o consumo interno de 21/22 milhões de sacas de 60kg e uma exportação de 40 milhões de sacas em média, teremos superávit entre oferta e demanda, como já destacamos em um clima favorável à produção.